O hábito de comer fezes vem sendo cada vez mais relatado pelos donos de cães e, muitas vezes, chega a causar tamanha aversão nos humanos que acabam por doar seus cachorros caso o problema não seja solucionado. Assim, cabe aqui um breve estudo sobre as prováveis causas e como lidar com a situação.
Coprofagia, ou comportamento de ingerir fezes é verificado em alguns cães, sendo muito raro em gatos. Pode consistir na ingestão das próprias fezes, das fezes de outros cães ou de outros animais, inclusive de seres humanos. As fezes dos gatos costumam conter elementos atrativos para os cães, razão pela qual a coprofagia não é incomum em residências onde cães e gatos convivem juntos, já que a caixa de areia dos gatos torna-se algo bem interessante para os peludos!
Apesar de ser repulsivo para os humanos, não se trata, por si só, de comportamento prejudicial aos cachorros nem tampouco indicativo (dependendo do contexto) de um distúrbio comportamental.
Por exemplo, o comportamento de ingerir fezes é considerado normal em cadelas com filhotes. Antes destes começarem a se locomover sozinhos, é normal a mãe estimulá-los na região anogenital e ingerir as fezes e urina produzidas, mantendo, assim, o ninho limpo e evitando que o odor das fezes atraia predadores.
A coprofagia costuma ser mais bastante observada em cães jovens e, em grande parte dos casos, extingue-se naturalmente. Por outro lado, as razões que levam à coprofagia em animais adultos e que persiste por longos períodos ainda são um mistério. Sabe-se que cães muito ansiosos ou compulsivos podem apresentar comportamento coprofágico.
Há relatos de que algumas raças de cães, como o Shih Tzu, têm uma predisposição para apresentar o comportamento. Mas este dado ainda não foi comprovado cientificamente. A Winie apresentou coprofagia quando filhote, mas o comportamento desapareceu por completo na fase adulta, após aplicação de técnicas de modificação comportamental que serão descritas abaixo.
Antes de se concluir que a coprofagia tem causa eminentemente comportamental, é preciso avaliar, de forma completa, a saúde do cão. Isto por que a coprofagia pode estar ligada a razões orgânicas.
DIAGNÓSTICO – INVESTIGAÇÃO DE CAUSAS ORGÂNICAS
É preciso observar se o cão tem preferência por ingerir somente as próprias fezes, ou também a de outros cães da casa e também de gatos. A frequência do comportamento também deve ser analisada, bem como se o cão adota a conduta quando está sozinho, na frente dos proprietários ou em ambas as situações.
Importante também verificar o uso de medicamentos, especialmente aqueles que podem ter efeito sobre o apetite canino. Distúrbios gastrointestinais podem, também, levar à coprofagia. Além disso, o comportamento pode surgir em razão de deficiência na absorção dos nutrientes pelo organismo do cão. A má absorção ou deficiência de tripsina gera fezes com altas quantidades de ingredientes não digeridos, o que as torna palatáveis aos cães.
Além disso, cães com verminoses podem sofrer de deficiência nutricional, que leva à possibilidade de ingestão das fezes como fator compensador.
Finalmente, a subalimentação, ou seja, uma alimentação pobre em nutrientes necessários para a perfeita saúde do cão, também é uma hipótese para surgimento da coprofagia.
Assim, considerando que as causas da coprofagia podem ser orgânicas, importante que sejam feitos exames físicos e clínicos no peludo, dentre eles hemograma completo, perfil bioquímico completo, amilase, lípase, imunorreatividade semelhante à da tripsina, vitamina B 12, folato, gordura fecal, tripsina fecal, fibra muscular fecal, vestígios minerais, sedimentação fecal e exame fecal para parasitas.
DIAGNÓSTICO – INVESTIGAÇÃO DE CAUSAS COMPORTAMENTAIS
Descartadas as hipóteses de distúrbios patológicos, nutricionais ou comportamentos normais (como a cadela que come as fezes dos filhotes) a justificar a coprofagia, esta pode ser diagnosticada como um problema comportamental.
São várias as hipóteses aceitas para o surgimento da coprofagia, apesar de ainda não haver consenso quanto a propensão de determinados cães para o desenvolvimento deste comportamento.
Uma das suposições é que o cão pode estar brincando com as próprias fezes, em razão de um ambiente pobre em distrações e opções que permitam estimulação mental, assim como confinamento em espaços diminutos.
Neste último caso, se o cão é deixado num espaço muito pequeno, onde os locais de alimentação, descanso e banheiro estão muito próximos, a coprofagia, quando iniciada, tende a persistir e até mesmo a piorar.
Cães também podem comer as próprias fezes (ou de outros animais) por investigação. Ou ainda, para chamar a atenção do proprietário.
Além disso, se o cão não tem acesso a distrações mentais e possui baixo nível de atividade física, também tende a procurar outras ocupações, e a coprofagia pode ser uma das consequências.
Uma piora do quadro muitas vezes pode ser observada quando os proprietários preocupam-se em demasia com o recolhimento das fezes logo que o cão se alivia, para evitar o repulsivo ato de serem comidas. Desta forma, do ponto de vista do cão, as fezes acabam sendo vistas como algo muito valorizado pelo dono, ou seja, um objeto que vale a pena ser “mexido”.
TÉCNICAS DE MODIFICAÇÃO COMPORTAMENTAL
Primeiramente, o cão deve ser ensinado a fazer as necessidades num local determinado, que será seu “banheiro” (veja aqui e aqui dicas sobre este tipo de treino). Paralelamente, deve aprender a fazer as necessidades sob comando, na presença dos donos.
Estes treinos devem ser feitos com a utilização de recompensas valorizadas pelo cão, que rapidamente aprenderá o local onde deve se aliviar e que fazer as necessidades na frente dos proprietários tem um consequência imediata e prazerosa.
Pode-se, então, limitar o acesso ao “banheiro” (através de uma porta ou portão) para que este local seja utilizado somente na presença dos donos. Assim que o cão se aliviar, atraí-lo para outro local, onde será recompensado por fazer as necessidades no local correto. Neste momento, jogar, sem que o cão perceba, algo amargo e não tóxico nas fezes (como produtos amargos que tem exatamente o objetivo de repelir a curiosidade dos cães), para que não sejam mais tão atrativas. Pode-se deixar o cão cheirar as fezes e a urina, caso queira, antes de receber o petisco.
Após estes procedimentos, pode-se recolher as fezes e urina calmamente, sem alardes e, preferencialmente, longe da visão do cão. Assim, este não será compelido a competir com os donos por este “objeto”.
Outra medida salutar é manter o “banheiro” estrategicamente longe do local de descanso e dos potes de alimentação, preferencialmente em lados opostos.
O enriquecimento do ambiente com objetos e brinquedos que mantenham o cão entretido também auxilia na estimulação mental para que tenha menor probabilidade de se interessar pelas fezes.
Proporcionar atividade física regular ao cão auxilia no tratamento, visto que terá um gasto de energia maior com outra atividade (respeitando-se sempre a condição física, de saúde, idade e tamanho do cão).
Além disso, existem alguns medicamentos que podem ser prescritos pelo veterinário, que tornam as fezes amargas, tornando-se, assim, um coadjuvante no tratamento, visto que será mais um fator a tornar o ato de comer as fezes desagradável.
Se o cão tem o costume de ingerir fezes do gato que mora na mesma casa, uma boa pedida é colocar a caixa de areia em local inacessível para o cão (um lugar alto, por exemplo), desde que, obviamente, o gato tenha acesso a seu “banheiro”.
Por outro lado, se o cão costuma ingerir fezes de outros cães ou animais durante o passeio, deve-se puni-lo (com broncas que causem susto ou desconforto), evitando-se, assim, a repetição do comportamento.
Não se deve dar bronca no cão quando este defecar em locais que não sejam seu “banheiro”, para que este não passe a associar o ato de defecar com uma consequência ruim, o que pode levá-lo a não querer fazer na frente dos donos.
De qualquer forma, o comportamento coprofágico deve ser encarado pelas pessoas como algo passível de solução, mas que demanda bastante empenho e paciência para tanto.
Fontes de consulta:
"Adestramento Inteligente", Alexandre Rossi
"Problemas comportamentais do cãe e do gato", Landsberg, Hunthausen, Ackerman
"Comportamento canino e felino", Horwitz, Neilson
Na mesma naturalidade que nós comemos os nosso pão com manteiga, algus cães se deliciam com um cocô, né?
ResponderExcluirÉ muito alto o número de cães adeptos à coprofagia!
Alexandra Horowitz (estudiosa em comportamento canino) não classifica isso como um problema, mas sim como uma CARACTERÍSTICA dos cães - que nós não apreciamos.
Tendo a concordar com ela! :)
Oi, Camilli! Concordo em parte com você. Explico: o ato de comer fezes, como característica intrínseca do comportamento canino, é esporádico e tende, inclusive, a desaparecer na fase adulta. Assim como se esfregar em carniça, outro comportamento normal para os cães e repulsivo para os humanos. Mas, se em determinados contextos - como falta de exercícios e atividades, confinamento e solidão - o cão passar a comer as próprias fezes regularmente, a coprofagia certamente estará associada a ansiedade e até comportamentos compulsivos e a terapia comportamental se torna necessária. Beijos!
ResponderExcluirOie, adicionei lá no post http://www.maedecachorro.com.br/2011/01/seu-cachorro-come-coco.html!!
ResponderExcluirBeijo!
Oi, Ana! Valeu, querida! Beijos!
ResponderExcluirMeu cachorrro come coco, ele é um chow chow e o veterinário já me disse que o caso dele é comportamental. Já usei os comprimidos mas quando paro de dar ele volta a comer, eu amo ele, e fico triste pq em casa minha mãe nem deixa ele entrar por esta razão, poderia existir uma ração para ele comer sempre evitando esse problema, seria ótimo
ResponderExcluirContinue tentando, o problema pode diminuir bastante! Abs
ResponderExcluir