sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

A amiga misteriosa

Eis a história:
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O casal começou a subir, subir uma estrada de terra íngreme, em direção a um recanto escondido entre folhas, árvores, floresta. Expectativa de encontrar uma queda d´água que formaria um belo espelho esverdeado, como a paisagem ao redor.

Três quilômetros de subida, subida e mais subida. E eis que, logo no início da caminhada, surge uma simpática amiga de quatro patas. Surgida não se sabe de onde, atraída não se sabe pelo quê.


Usava coleira, sinal de que alguém zelava por ela. Boa composição corporal, por assim dizer: fome ela não sentia. Mas quis permanecer com o casal.

Assim, muito naturalmente, começou a acompanhá-los de forma deliberada, parando quando paravam, seguindo quando seguiam. O tempo todo ao lado deles, incansável, mesmo mancando ligeiramente de uma das patas traseiras, algum incidente em sua vida errante e aventureira tinha deixado sequela...

O tal poço maravilhoso não foi encontrado. Encontraram, isto sim, uma tempestade temperada com relâmpagos ferozes, raios cintilantes. Mesmo nesse momento, ao lado deles a amiga de quatro patas permaneceu, com lama, água, pedras, vento, folhas e caos ao redor. Poderia ter fugido, corrido, conhecia as redondezas muito melhor do que eles. Certamente estava perto de casa. Mas não se afastou.

Voltaram, ela ao lado, sensação refrescante após a tempestade. Entraram no carro, ela permaneceu olhando. E seguiu-os, por vezes correndo, até onde seu corpo roliço permitiu, trazendo lágrimas aos olhos. Para depois simplesmente sumir, da mesma forma como aparecera: repentinamente.

De onde ela veio? Não se sabe. Quem dela cuidava? Não se sabe. Por que ela achegou-se e acompanhou-os por mais de seis quilômetros, com calor e durante uma tempestade assustadora? Não se sabe. Por que seguiu-os na volta? Não se sabe. Para onde foi? Não se sabe.

Muitos diriam: tinha algum interesse na companhia humana. Outros: carente e curiosa. Outros ainda: era um anjo. Talvez nada disso, talvez tudo isso.

Mas há uma certeza: a imagem daqueles olhos profundos e ternos não será esquecida.


* Baseado em fatos reais.
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2 comentários:

  1. Cássia: mais uma vez me lembrei da literatura. No ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA, de Saramago, um dos personagens que mais faz pensar é o "cão das lágrimas". Ele tem todas as qualidades éticas e morais que os seres humanos têm menosprezado e esquecido.
    Beijos

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  2. Oi, Maria Teresa! Tenho adorado os paralelos com a literatura! Ainda não li o ENSAIO, mas agora certamente o farei! Beijos, Cassia

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